Capítulo do livro "Petrobrás: esse patrimônio é nosso." de Euzébio Rocha.
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Conspiração contra a Petrobrás
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- Euzébio Rocha -

    Trago a experiência parlamentar de históricos momentos em que oposição e governo se uniram para aprovação da Petrobrás. A empresa que surgiu sob o signo da unidade nacional deve, na hora da sua maior crise, merecer o apoio de todos os brasileiros e do Congresso Nacional.
    As forças que coordenam os interesses contra a Petrobrás, às quais já nos referimos, tudo fizeram para impedir a sua criação, e foram derrotadas.
    Agora, se aos agentes de tão sinistra empreitada, perguntássemos qual a estratégia mais eficiente para impedir o êxito econômico e técnico da Petrobrás, a resposta viria, sem vascilação, dificultar ao máximo a sua capacidade de investir, especialmente, nos setores de pesquisa, exploração e produção. É o que tem sido tentado de todas as formas mas, felizmente, nem sempre com bom resultado.
    Tudo começou em 1970. Os investimentos em exploração e produção, de 1965/69, em moedas constantes de 1976, em média foram 50% dos investimentos totais. Conseqüentemente, a produção brasileira de petróleo, em 5 anos, de 1965 a 1969, cresceu de 5.610.659 m3 para 10.200.000 m3. Já a média dos investimentos de 1970/1974, em moedas constantes de 1976, baixou para 28%. Desatinadamente a nossa produção de petróleo, em 11 anos, de 1969 a 1979, decresceu de 10.200.000 m3 para 9.928.000 m3. (1)

    É axiomático - NÃO SE PRODUZ PETRÓLEO SEM INVESTIR.

    O desastre a que nos referimos, a queda da produção nacional de petróleo por 11 anos, deveria alertar o Governo, dirigido, presumimos nós, por pessoas de alto nível e capazes, o que não aconteceu. Por isso, tal comportamento nos pareceu, de início, estranho, para em seguida, apresentar-se altamente suspeito.
    A imprevisão do Governo em relação às duas crises do petróleo é de estarrecer, para dizer o mínimo. No início da década de 1970, já era previsível a primeira crise de 1973, pois se haviam alterado profundamente as relações de poder entre as companhias multinacionais e os países produtores. Não entendemos nós, nem o País, que, em tais circunstâncias, fossem reduzidos os investimentos nos setores de pesquisa, exploração e produção, quando era visível a alteração na estrutura de preços, com sua elevação a níveis insuportáveis para os países em desenvolvimento, sobretudo para so que dependem de importação de petróleo.
   O Governo não preparou o País para a crise de 1973 e o manteve despreparado para a de 1979. Não procurou aumentar a produção interna nem reduzir a taxa de crescimento do consumo.
Por quê?
    Em abril de 1967, o general A. Candal Fonseca, ao tomar posse da presidência da Petrobrás, em seu primeiro pronunciamento, afirmou:

"Que o objetivo primacial da Petrobrás estava na obtenção da
auto-suficiência". Realçou, entretando, "que poderemos aproximar-nos
gradativamente, ano a ano, para atingí-lo, possivelmente dentro de cinco
ou seis anos, desde que a União junte aos recursos gerados pela
empresa substancial contribuição".

    Tivesse sido atendida a advertência do general Candal Fonseca, por certo, o Brasil teria enfrentado a crise de 1973, com tranqüilidade. O que se fez foi, por todos os meios, reduzir os recursos para a Petrobrás. Assim, o Decreto 432, de 23 de Janeiro de 1969, reduziu, substancialmente, os recursos destinados à empresa para aquisição de embarcações nos estaleiros nacionais, uma vez que 50% daqueles recursos foram, pelo referido Decreto, retirados da Petrobrás. Como se não bastassem tais medidas, redução dos investimentos e diminuição dos recursos, pois a Petrobrás poderia resistir, eis que, em 25 de abril de 1969, no mesmo ano, é baixado o Decreto-lei 555, reduzindo de 12,5% a quota da Petrobrás na arrecadação do imposto único sobre combustível, para 12%. Dentro do diabólico plano de dificultar a obtenção de meios para a empresa, sobreleva a Resolução baixada em 13/03/75 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico, por ordem presidencial, proibindo a Petrobrás de captar recursos na Bolsa, no momento em que as ações da empresa foram os títulos da Bolsa de maior índice de rentabilidade, atingindo 420%.
    Se tal política não foi ditada pelos trustes internacionais, quem sabe, por coincidência realizou os seus objetivos - DIFICULTAR O ÊXITO DA PETROBRÁS. O que se constata é que em vez da "substancial contribuição", preconizada, oportunamente, pelo general Candal Fonseca, o que houve foi uma política de cortes de verbas e imposição de impostos que se refletiram na redução dos investimentos.
    Por absurda, não prevalece a justificativa de que se trata de aplicação de demorado retorno. O petróleo é atividade autofinanciável. Para o campo de Marlim entrar em operação seriam necessários US$ 1,8 bilhão. Como a produção estimada é de 200 mil b/d, o investimento seria recuperado em um ano, considerando o preço de US$ 30,00 dólares o barril.

(1) - Relatório da Petrobrás de 1965/1979.


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