Capítulo do livro "Petrobrás: esse patrimônio é nosso." de Euzébio Rocha.
Auditoria na Petrobrás
- Euzébio Rocha -

    A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) solicitou, na representação ao TCU, uma investigação na política de preços da Petrobrás. A AEPET, neste importante documento, denuncia a política governamental de esvaziamento da Petrobrás, provocada por critérios de fixação artificial dos preços dos derivados e falhas na condução da comercialização, gerando o asfixiamento do fluxo de caixa, redução dos lucros e, em conseqüência, comprometiemento no nível de investiementos na prospecção e refino.

    A apresentação especifica algumas das causas determinantes da crise na Companhia:

   a) Perdas de receita decorrentes das diferenças entre preços CIF do petróleo importado e CIF considerado na estrutura de preços;
   b) Perdas de receita decorrentes das diferenças entre as taxas de câmbio efetivas e as consideradas na estrutura de preços;
   c) Defasagem de preços;
   d) Perdas com subsídios à Nafta Petroquímica;
   e) Perdas decorrentes dos prazos de faturamento nas vendas de derivados para as distribuidoras;
   f ) Perdas com a comercialização do Álcool;
   g) Débitos do Governo e de Entidades Governamentais com a Petrobrás.

    Cada um destes ítens foi exaustivamente fundamentado. Por amostragem, citaremos o ítem d:

"A Petrobrás vende a nafta à indústria petroquímica a US$ 93/ton. quando
o preço no mercado internacional oscila entre US$ 170/180/ton.
arcando com perdas de US$ 500 milhões/ano.
No período de 1980/1989 a Petrobrás transferiu para o setor privado
estrangeiro e nacional, através de subsídio, quase US$ 4 bilhões."

    Não se pode deixar de louvar a precisão informativa da AEPET.

    O parecer do eminente Ministro Marcos Vilaça, ao examinar a matéria, contém oportunas considerações entre as quais citaemos as seguintes: "Dessa forma, entendo como procedente a Representação da Associação dos Engenheiros da Petrobrás - AEPET - e dentro das limitações deste Tribunal, proponho que se proceda uma auditoria operacional na Petrobrás com vistas a aprofundar os aspectos aqui tratados, e que se dê conhecimento ao Ministro da Infra-Estrutura do inteiro teor deste VOTO, com vistas à supervisão ministerial, para que tome as providências que o caso requer, bem, assim, dele se faça conhecedor o Congresso Nacional". Ainda ponderou o Sr. Ministro que o novo texto constitucional ampliou os poderes do TCU que, a partir de agora, está capacitado a analisar o desempenho financeiro de uma determinada empresa, em vez de limitar-se à conferência, pura e simples de suas contas. "Hoje temos competência para investigar a política financeira", afirmou. E, ainda, disse: "FAÇO QUESTÃO DE DEIXAR BEM CLARO QUE NÃO ADMITO, NEM COMO HIPÓTESE, A PRIVATIZAÇÃO DA PETROBRÁS. A PETROBRÁS É ESSENCIAL PARA O PAÍS".
    Em sessão extraordinária do Plenário, em 14 de Dezembro de 1989, o Tribunal Pleno acolheu as conclusões do eminente relator, Ministro Adhemaar Paladini Ghisi, de cujo voto transcrevo as seguintes conclusões:

   1) "A grave crise financeira que atravessa a Petrobrás, sem paralelo nos seus trinta e cinco anos de existência, traz à luz o resultado da  desastrada política econômica a que vem sendo submetida a Empresa, em desrespeito às mais elementares regras da atividade mercantil".

    2) "Como ilustração, cito a perda de US$ 163 milhões, ocorrida no mês de julho último, quando a Companhia importou petróleo a US$ 18,43 o barril, e o CNP adotou o valor de US$ 13,04 na elaboração das estruturas de preço dos produtos derivados".

   3) "Obrigada a fornecer combustíveis e afins a outros órgãos e empresas estatais, por conta de recebimentos incertos e improváveis, a Petrobrás ainda suporta os pesado ônus dos prejuízos gerados pelo Programa Nacional do Álcool".

    A decisão do Tribunal de Contas da União, ao examinar a Representação da Associação dos Engenheiros da Petrobrás de realizar a auditoria na Empresa, envolve os mais relevantes interesses do Brasil. Pode-se afirmar que é um pronunciamento histórico. Há de inspirar o País na defesa da soberania nacional e do desenvolvimento econômico. É uma perspectiva esperançosa que surge. Nem tudo está perdido.


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