Fonte: Notícias da imprensa - FAB
 Vinculado no Jornal do Brasil, 27 de Julho de 1997.
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A porta aberta
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- Moacyr Werneck de Castro -
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    Entre o plano estratégico do Pentágono com relação à Colômbia e a idéia de uma filiação da Argentina à OTAN existe um nexo claro. Em resultado, o Brasil corre o risco de ser envolvido num conflito como o que acaba de devastar a Iugoslávia. Está sendo tecida na sombra uma trama internacional cujas implicações podem atingir diretamente os nossos interesses na fronteira Norte. Se o novo Ministério da Defesa existe para alguma coisa que não seja enfeitar um organograma, esse é um assunto prioritário para sua preocupação.
    Como todos sabemos, a globalização, segundo o Consenso de Washington, significa a abolição da soberania nacional como velharia desprezível. A nova doutrina, posta em prática nos Bálcãs, com os desastrosos efeitos que estão se vendo, autoriza a intervenção militar em qualquer país onde supostamente os direitos humanos ou a democracia sejam violados, de acordo com os critérios da potência dirigente, sem mais consideração às normas do direito internacional. Para esse papel foi desviada a OTAN, originariamente uma aliança defensiva de países do Hemisfério Norte.
    Agora se invoca a situação reinante na Colômbia como reclamando uma idêntica operação intervencionista. Numa primeira etapa, o tráfico de drogas (do qual os EUA são ao maiores usuários) e a guerrilha das Farc, com as quais o governo de Andrés Pastrana está negociando, já representaram um problema que exige maior apoio às Forças Armadas da Colômbia (o terceiro país a receber ajuda militar ianque, depois de Israel e do Egito), sob a forma de treinamento de tropas, armamento e dinheiro vivo. O ministro da Defesa colombiano, Luís Fernando Ramírez, acaba de pedir aos EUA um auxílio complementar de 6OO milhões de dólares.
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Levar a Argentina à OTAN é o derradeiro serviço que Menem quer prestar aos EUA
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    O Departamento de Estado informou que em breve serão concluídos compromissos formais nesse sentido. O presidente Clinton, em entrevista coletiva, declarou que o assunto é "interesse da segurança nacional" dos EUA, e por isso tudo fará para ajudar a Colômbia.
    Clinton excluiu no momento uma ação militar isolada dos EUA, que chocaria demais o mundo. Os estrategistas trabalham com uma solução mais palpável: o perigo da "narco-guerrilha" exigiria a participação de países latino-americanos para o bem da democracia, seguindo o modelo da "guerra humanitária" dos Bálcãs, sob a alegada provocação de uma ameaça continental. É o que está nas cogitações de Washington, conforme tem sido ventilado pela imprensa de Buenos Aires. La Nación deu noticia de gestões ianques para que a Argentina assuma a iniciativa de propor a criação de uma força conjunta, à qual os EUA depois se juntariam. Segundo Clarin, as declarações de Washington sobre o treinamento de forças colombianas para enfrentar "grupos armados ligados ao narcotráfico" reavivaram os temores de uma intervenção militar na Colômbia. O que se desmente em Buenos Aires é o apoio a uma ação militar unilateral dos EUA.
    Nesse contexto deve ser vista a proposta de Menem para a adesão da Argentina à OTAN. Geograficamente, é um absurdo. Mas, politicamente, e embora desafiando a opinião do país, a ponto de ser repudiada a sugestão por ambos os candidatos à presidência da República, é um derradeiro serviço que Menem quer prestar aos EUA nos três meses que lhe restam de mandato.
    Sabidamente a OTAN não pode funcionar no caso, mas, conforme certas insinuações, a OEA seria utilizada como novo biombo para uma operação formalmente multinacional, porém de fato concebida, executada e comandada pelos generais do Pentágono.
    Até o fim da semana passada, a informação disponível era de que o governo brasileiro não aprova a idéia de uma intervenção militar, conjunta ou não, na Colômbia. De fato, seria a porta aberta para a intervenção, também, nas regiões limítrofes da Amazônia - assunto que diz respeito à função constitucional das Forças Armadas brasileiras. Questão de brio nacional, que não se negocia nos balcões da globalização.


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