Jornal Gazeta do Povo - Fevereiro/1998.
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No fundo de tudo o petróleo
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- Carlos Chagas -
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    Seria bom que cada interessado lesse "A Reconquista do Brasil " de cabo a rabo, meditando nos capítulos que professor Bautista Vidal escreveu com coragem e competência não só para alertar o tamanho do buraco em que estamos caindo quanto para apontar formas de sairmos dele. No fundo de tudo a energia, ou a falta dela, por parte das potências dominantes, capazes de tudo para manter o seu controle. Diz o autor :
    "A situação não é tranqüila entre os grandes consumidores de energia fóssil, pois o fornecimento é "garantido" apenas sob a égide de forte aparato militar. Países como a Alemanha e o Japão, por exemplo, encontram-se em posição muito sensível ante o poder militar norte-americano no Oriente Médio. O custo desse aparato militar corresponde a subsídio de mais de cinco vezes o valor de "mercado" do petróleo que os Estados Unidos da América importam."
    "Não é por acaso que nações da região, com longa e rica história, e em povos milenares, como o Irã e o Iraque, resistem a essas circunstâncias e pagam por isso elevadíssimo preço. O restante é governado por famílias de sheiks que se eternizam no poder em regime absolutista, tutelado por poder externo."
    "Nessas circunstâncias, há ainda quem tenha a coragem de considerar esse combustível fóssil como simples "commodity", cujo preço resultaria de uma suposta "economia de mercado". Quanta irresponsabilidade! As dezenas de milhares de civis iraquianos trucidados na última guerra do Golfo não contam, salvo para aqueles que consideram esses mortos já computados no preço do barril."
    "Com a redução, nos próximos anos, das reservas de petróleo de possível aproveitamento econômico e o irremediável esgotamento por vir, os conflitos irão acirrar-se nas regiões do planeta onde possam localizar-se alternativas reais a esse combustível fóssil. Entre elas as regiões com alto potencial de produção de biomassa. Porém, somente as regiões intertropicais oferecem condições para suprir as demandas nas dimensões a serem substituídas."
    "Não é por acaso que a região amazônica é identificada como área de conflito potencial. Se necessário, planos já existem para sua ocupação militar pelas potências hegemônicas. Com a pseudodoutrina neoliberal, porém, ela pode ser ocupada economicamente sem dar-se um só tiro. A ocupação da "nação ianomâmi" está nesse contexto. Quando situações como essa podem ser previstas, nada substitui uma boa negociação que, consubstanciada em ações, pode evitar o pior. Negociação, entretanto, exige partes independentes, que chegam a acordos de interesse mútuo. Se uma das partes é incompetente, ou trabalha subordinada à outra, não, não existe negociação, mas imposição do lado forte. "
    "Nas atuais circunstâncias, caminhamos para um vexame histórico, que poderá nos inviabilizar como ente autônomo por um longo período, podendo ser ainda um modo de promover nosso desaparecimento. Em certas ocasiões na História, evidenciamos fatos dessa natureza, jamais entretanto em país continental como o Brasil, dispondo de imensa potencialidade de poder fazer-se respeitar. Essa situação não decorre evidentemente da classificação inaceitável de sermos uma nação constituída de abúlicos, suicidas ou irresponsáveis, ou, ainda, de uma "raça inferior", como querem muitos. Nossa história demonstra precisamente o contrário."
    "Uma circunstância resulta do fato de que o quadro político dirigente é montado pelas vias do processo dito democrático, o que é conduzido pelo poder que Gilberto Vasconcellos chama de video-financeiro e que é controlado pela ditadura financeira. Ele elege o Executivo e mais de 70 por cento do Congresso. O chamado voto popular deixou de existir, é exercido apenas por setores minoritários, com militância política. Outra circunstância, que dá cobertura à referida pelo papel, depressão e tutela que exercem - é o domínio da mídia por esse poder video- financeiro, que transforma a opinião pública e os poderes institucionais da República em seus reféns. Ela funciona de forma monopólica, controlada no essencial por interesses antinacionais."


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