O autor alerta
para o real objetivo do governo com o tipo de Ministério da Defesa
que tenta-se implantar.
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Senão o Pilatos do Credo, pelo menos um valor igualmente sem maior
significado na presente equação. Coisa que não afasta,
é claro, sua competência, sua probidade e seu espírito
público. Fala-se de Élcio Álvares, indigitado ex-ministro
da Defesa.
Porque o antigo senador pelo Espírito Santo pouco tem a ver com
essa confusão. Fez o papel das mãos do gato, com as quais
o governo continua tirando as castanhas do fogo. No centro de tudo está
a criação do Ministério da Defesa, estratégia
globalizante adotada pelo presidente Fernando Henrique para desmoralizar,
erodir afastar as Forças Armadas dos centros decisórios.
Engana-se quem supuser que o atual inquilino do Palácio do Planalto
agindo desse jeito como desforra, para dar o troco por conta dos momentos
nem tão amargos assim que passou durante a ditadura. Sofreu um pouquinho,
decretaram a prisão preventiva dele, foi aposentado como professor
universitário, preferiu mandar-se para o estrangeiro, mesmo sem
ter sido banido ou exilado. No entanto, manteve o passaporte brasileiro
e logo encontrou recursos oriundos de multinacionais para comer caviar
e andar de Mercedes pelas ruas de Santiago do Chile. Bem diferentes foram,
por exemplo, os exílios de José Serra e de Paulo Alberto
Monteiro de Barros, o senador Arthur da Távola, seus companheiros
de infortúnio. Eles passaram fome e frio, sofreram o desemprego
e a permanente perseguição dos representantes brasileiros
naquela capital.
O objetivo da criação do Ministério da Defesa,
um corpo estranho em nossa tradição histórica, é
expulsar as Forças Armadas das maiores decisões nacionais,
negando-lhes voz e voto nos conciliábulos ministeriais, substituídas
por um civil que, por melhores qualificações pessoais que
possa ter, será sempre um representante do governo globalizante,
jamais de instituições permanentes, encarregadas de zelar
pela soberania nacional.
Tome-se agora o novo ministro da Defesa, o advogado Geraldo Quintão.
Da mesma forma que Élcio Álvares, é correto, competente
e de excelente caráter. Mas...Mas tem a ver com assuntos de defesa
tanto quanto teria um general com a ciência jurídica, se fosse
nomeado para o Supremo Tribunal Federal. O ex-advogado-geral da União
é simplesmente a próxima vítima. Se quiserem, o novo
gato a ter suas mão enfiadas no forno.
Sem a presença das Forças Armadas no Ministério
fica bem mais fácil cumprir à risca as diretrizes do modelo
econômico que nos vem sendo imposto desde a queda do Muro de Berlim,
ou seja, torna-se tarefa menos pesada empurrar o Brasil para a condição
de colônia do mundo rico, transformando-nos em meros exportadores
de matérias-primas, sem indústria e sem tecnologia. A
ausência do estamento castrense na formulação das grandes
políticas faz quase obrigatória nossa participação
nessa deletéria livre-competição entre quantidades
desiguais, cujo resultado só pode ser mesmo o do confronto da guilhotina
e o pescoço. Sem que Exército, Marinha e Aeronáutica
sejam ouvidos, facilita-se a privatização de empresas estratégicas,
bem como sua entrega a grupos econômicos internacionais e até
estatais, mas dos estados ricos. Escanteados os militares, torna-se brincadeira
de criança permitir a entrada livre e desimpedida do capital predatório
e especulador, aquele capital-motel que chega de tarde, passa a noite e
vai embora de manhã, depois de ter estuprado um pouquinho mais nossa
economia. Continuando as coisas como vão, logo se seguirá
a internacionalização da Amazônia e do Pantanal, equivale
a dizer, até nossa desagregação territorial. Porque
na hora em que tivermos de apela para os militares, verificaremos terem
sido reduzidos a um corpo inerte, insosso e inodoro.
Por isso Élcio Álvares foi um detalhe, como Geraldo Quintão
será outro. Políticos, ministro do Supremo Tribunal Federal,
advogados, diplomatas ou até bispos no Ministério da Defesa
encenarão a mesma pantomina, servindo apenas para enfraquecer e
confundir a tropa, para levá-la à acomodação
ou à exasperação – o que dá no mesmo.
Já se ouve nos corredores do poder que as nossas Forças Armadas
dão prejuízo, consomem recursos, perderiam qualquer guerra,
estão mal aparelhadas, deveriam ser reduzidas e deslocadas para
atividades como o combate ao narcotráfico, ao contrabando, à
prostituição infantil e até ao caos no trânsito.
Precisamente para que se afastem de suas finalidades básicas
e fundamentais, vale repetir, de garantia da soberania nacional.
O que a gente se pergunta é como uma conspiração dessas
dimensões consegue ser encenada às vistas da nação,
da qual os militares fazem parte, sem protestos nem indignação,
sem reações nem gritos de basta. Estaríamos mesmo
travestidos em colônia do mundo desenvolvido? .