Jornal de Brasília, 24 de Janeiro de 2000.
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A grande conspiração
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- Carlos Chagas -
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O autor alerta para o real objetivo do governo com o tipo de Ministério da Defesa que tenta-se implantar.


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.    Senão o Pilatos do Credo, pelo menos um valor igualmente sem maior significado na presente equação. Coisa que não afasta, é claro, sua competência, sua probidade e seu espírito público. Fala-se de Élcio Álvares, indigitado ex-ministro da Defesa.
    Porque o antigo senador pelo Espírito Santo pouco tem a ver com essa confusão. Fez o papel das mãos do gato, com as quais o governo continua tirando as castanhas do fogo. No centro de tudo está a criação do Ministério da Defesa, estratégia globalizante adotada pelo presidente Fernando Henrique para desmoralizar, erodir  afastar as Forças Armadas dos centros decisórios.
    Engana-se quem supuser que o atual inquilino do Palácio do Planalto agindo desse jeito como desforra, para dar o troco por conta dos momentos nem tão amargos assim que passou durante a ditadura. Sofreu um pouquinho, decretaram a prisão preventiva dele, foi aposentado como professor universitário, preferiu mandar-se para o estrangeiro, mesmo sem ter sido banido ou exilado. No entanto, manteve o passaporte brasileiro e logo encontrou recursos oriundos de multinacionais para comer caviar e andar de Mercedes pelas ruas de Santiago do Chile. Bem diferentes foram, por exemplo, os exílios de José Serra e de Paulo Alberto Monteiro de Barros, o senador Arthur da Távola, seus companheiros de infortúnio. Eles passaram fome e frio, sofreram o desemprego e a permanente perseguição dos representantes brasileiros naquela capital.
    O objetivo da criação do Ministério da Defesa, um corpo estranho em nossa tradição histórica, é expulsar as Forças Armadas das maiores decisões nacionais, negando-lhes voz e voto nos conciliábulos ministeriais, substituídas por um civil que, por melhores qualificações pessoais que possa ter, será sempre um representante do governo globalizante, jamais de instituições permanentes, encarregadas de zelar pela soberania nacional.
    Tome-se agora o novo ministro da Defesa, o advogado Geraldo Quintão. Da mesma forma que Élcio Álvares, é correto, competente e de excelente caráter. Mas...Mas tem a ver com assuntos de defesa tanto quanto teria um general com a ciência jurídica, se fosse nomeado para o Supremo Tribunal Federal. O ex-advogado-geral da União é simplesmente a próxima vítima. Se quiserem, o novo gato a ter suas mão enfiadas no forno.
    Sem a presença das Forças Armadas no Ministério fica bem mais fácil cumprir à risca as diretrizes do modelo econômico que nos vem sendo imposto desde a queda do Muro de Berlim, ou seja, torna-se tarefa menos pesada empurrar o Brasil para a condição de colônia do mundo rico, transformando-nos em meros exportadores de matérias-primas, sem indústria e sem tecnologia. A ausência do estamento castrense na formulação das grandes políticas faz quase obrigatória nossa participação nessa deletéria livre-competição entre quantidades desiguais, cujo resultado só pode ser mesmo o do confronto da guilhotina e o pescoço. Sem que Exército, Marinha e Aeronáutica sejam ouvidos, facilita-se a privatização de empresas estratégicas, bem como sua entrega a grupos econômicos internacionais e até estatais, mas dos estados ricos. Escanteados os militares, torna-se brincadeira de criança permitir a entrada livre e desimpedida do capital predatório e especulador, aquele capital-motel que chega de tarde, passa a noite e vai embora de manhã, depois de ter estuprado um pouquinho mais nossa economia. Continuando as coisas como vão, logo se seguirá a internacionalização da Amazônia e do Pantanal, equivale a dizer, até nossa desagregação territorial. Porque na hora em que tivermos de apela para os militares, verificaremos terem sido reduzidos a um corpo inerte, insosso e inodoro.
    Por isso Élcio Álvares foi um detalhe, como Geraldo Quintão será outro. Políticos, ministro do Supremo Tribunal Federal, advogados, diplomatas ou até bispos no Ministério da Defesa encenarão a mesma pantomina, servindo apenas para enfraquecer e confundir a tropa, para levá-la à acomodação ou à exasperação – o que dá no mesmo.
    Já se ouve nos corredores do poder que as nossas Forças Armadas dão prejuízo, consomem recursos, perderiam qualquer guerra, estão mal aparelhadas, deveriam ser reduzidas e deslocadas para atividades como o combate ao narcotráfico, ao contrabando, à prostituição infantil e até ao caos no trânsito. Precisamente para que se afastem de suas finalidades básicas e fundamentais, vale repetir, de garantia da soberania nacional.
    O que a gente se pergunta é como uma conspiração dessas dimensões consegue ser encenada às vistas da nação, da qual os militares fazem parte, sem protestos nem indignação, sem reações nem gritos de basta. Estaríamos mesmo travestidos em colônia do mundo desenvolvido?
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