O Diálogo
Interamericano propunha estabelecer estruturas supranacionais para atuar
no continente, vigiando as atividades militares e promovendo ações
intervencionistas "sempre que necessário". O conjunto de medidas
ficou conhecido como "Projeto Democracia" e foi anunciado pelo presidente
Reagan.
Dez anos depois, o
Diálogo Interamericano anunciou um plano para eliminar, a curto
prazo, a soberania dos estados da América Latina, substituindo suas
funções por uma rede de instituições supranacionais
subordinadas aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos, via Nações
Unidas, FMI, ONU e uma série de Organizações
Não Governamentais. Esse projeto baseava-se no argumento de que
"a soberania dos estados nacionais não poderia constituir-se num
escudo atrás do qual governos ou grupos armados poderiam esconder-se".
Por coincidência, e até ironia, movimentos de guerrilhas no
México, Colômbia, Peru e Guatemala passaram para a primeira
página dos jornais, servindo para estimular as diretrizes do Diálogo
Interamericano, forma de intimidação e erosão dos
estados nacionais. Também foram incrementadas campanhas para a formação
de nações indígenas independentes, como no caso dos
Ianomami.
Nasceu o Nafta, Tratado
de Livre Comércio entre o Canadá, os Estados Unidos e o México,
com o objetivo de se estender até a Patagônia, ao tempo em
que o então embrionário Mercosul passou a ser hostilizado.
Outras ameaças aos estados nacionais foram feitas por parte do Diálogo
Interamericano, quer dizer, dos EUA: suspensão da assistência
econômica bilateral, embargo de exportações e importações
vitais, suspensão de ajudas militares, de fornecimento de equipamentos
e, finalmente, a possibilidade de intervenções militares.
O modelo também previa privatizações, possibilidade
total de especulação financeira e até recomendação
de que deviam ser suspensos os direitos sociais de algumas constituições
de países da América Latina, forma de "incrementar investimentos".
O Brasil incomodava,
pela sua dimensão, constituindo as Forças Armadas brasileiras
o maior obstáculo à concretização da Nova Ordem.
Era presidente Fernando Collor de Mello, que não resistiu às
pressões para minimizar a presença castrense em nossa realidade,
mesmo depois do retorno à democracia. Foi quando
começaram questionamentos a respeito
da missão dos militares, infensos a aceitar a transformação
de nosso território numa imensa fazenda exportadora de matérias-primas
e de produtos semimanufaturados e subvalorizados.
Collor foi ameaçado
de estrangulamento econômico e pressionado pelo então presidente
Bush até para mandar tapar a chaminé natural que eventualmente,
na Serra do Cachimbo, serviria para testes nucleares. Prosseguiram campanhas
de desmoralização das Forças Armadas, que continuam
hoje, lembrando-se entrevista recente do presidente do PFL, Jorge
Bornhausen, em favor da diminuição drástica de nossos
contingentes. Ao mesmo tempo, ganharam a opinião pública
sugestões vindas lá de cima, em favor do emprego de
Exército no combate ao narcotráfico, contrabando, violência
urbana e, em breve, à prostituição infantil, aos camelôs
e perueiros.
Depois de Fernando Collor
haver cedido ao modelo a nós imposto lá de cima e de Itamar
Franco haver resistido na medida do possível, FH tratou de recuperar
o tempo perdido e impor o modelo que lhe foi ditado e ao qual aderiu em
gênero, número e grau, centrado em duas vertentes: 1) A abertura
completa da economia através de privatizações desmesuradas,
do sucateamento da indústria, da estagnação da agricultura
e da permissão para a especulação financeira predadora.
2) A desmoralização e a transmutação das Forças
Armadas brasileiras em milícias policiais, porque superadas as duas
décadas da ditadura, elas são o maior
obstáculo à transformação
de nosso país e de outros em colônia internacionalizada dos
ricos.
Posto na presidência, FH tratou de recuperar o tempo perdido. Vem, como nenhum outro presidente latino-americano, dilapidando o Poder Nacional em favor da Nova Ordem a quem, na realidade, serve e presta contas.
Conforme denunciou em
1991, antes da era-sociológica, o general Osvaldo Muniz Oliva, então
comandante da Escola Superior de Guerra, a erosão da soberania dos
estados nacionais concentrou-se primeiro na insistência pelo reconhecimento
de uma responsabilidade internacional relativa ao meio ambiente, com severas
limitações ao direito de exploração e utilização
racional e ecologicamente equilibrada dos recursos naturais. Esse objetivo
cristalizou-se rapidamente na ação de ONGs engajadas nos
interesses hegemônicos dos países ricos e determinou, dizemos
nós, declarações que seriam cômicas se não
fossem trágicas, como as do vice-presidente Al Gore, para quem o
Brasil pensa que a Amazônia lhe pertence, mas engana-se. Outra obscena
sustentação dos internacionalistas, já aplicada na
África e na Ásia e então voltada para a América
Latina foi, conforme o general Oliva, a ênfase excessiva aos perigos
da explosão demográfica, para eles “com perigos maiores que
os provocados pelas bombas nucleares". A Nova Roma teme a proliferação
dos bárbaros, única forma de ser batida, como a Antiga.
A estratégia
da Nova Ordem, depois de passar pelo alijamento das Forças Armadas
como instituição nacional permanente, rejeita o ponto de
vista de que o meio ambiente deve ser salvo pela ação e não
pela inação e a inércia, como também acentuou
o ex-comandante da ESG.
Para o Diálogo
Interamericano, nada mais conveniente do que cercar a Amazônia, primeiro,
depois o Pantanal, mais tarde o resto do continente. A América
Latina serviria como imensa reserva de recursos naturais para exploração
na medida das necessidades da superpotência, aqui se permitindo
até pérfidos enclaves, no caso, as nações indígenas,
verdadeiros jardins zoológicos a ser visitados por seus turistas,
negando-se às populações silvícolas, mesmo
com ressalvas, os benefícios da civilização.
Isso ocorre diante
de nossos olhos, e por conta de parcela de nossas elites, que detém
o governo. Outra motivação não teve a criação
do Ministério da Defesa, contrário à tradição
brasileira mas patamar fundamental para o alijamento das Forças
Armadas das decisões nacionais. A mídia omite fatos tão
claros do debate com a opinião pública, imaginando receber
o seu quinhão no banquete dos poderosos. Quem quiser aprofundar-se
no tema deve ler "O Complô", da editora EIR, escrito por um grupo
de cientistas políticos latino-americanos e até norte-americanos.
Será, no mínimo, um antídoto para a globalização
e para a "Teoria da Dependência", cujo autor continua evoluindo.
Um dia desses escreverá a "Teoria da Dissolução",
que vem praticando.