As tentativas
começaram no início do século passado, jamais desapareceram
e agora constituem risco iminente. As riquezas da região, mais do
que as preocupações ecológicas, levam os países
desenvolvidos a contestar a soberania brasileira sobre a Amazônia,
sob o pretexto de que eles precisam cuidar das florestas e do ar que respiram,
como declarou o presidente Bill Clinton, na semana passada, na véspera
da abertura da sessão especial das Nações Unidas que
debateu a questão ambiental.
O presidente
Fernando Henrique abriu os trabalhos num discurso duro, onde criticou o
desinteresse das nações ricas em cumprir os compromissos
assumidos na Rio-92 e denunciou que o meio ambiente passou a ser utilizado
como pretexto para práticas protecionistas que minam as bases do
desenvolvimento sustentado e de um sistema econômico internacional
aberto. "Ficou mais fácil cobrar e acusar do que fazer" - disse
o presidente, acrescentando a necessidade de diminuição dos
gases que provocam o aquecimento do planeta e são causados pelo
CFC (clorofluorcarbono), gerados pelos aerossóis, escapamentos de
veículos e a produção de parte das indústrias
do Primeiro Mundo. Também surpreendeu a própria equipe econômico-financeira
do governo ao anunciar a súbita retomada do Plano do Álcool,
para diminuir a poluição.
Coincidência
ou não, Bill Clinton, em entrevista à imprensa, exigiu a
redução significativa de gás carbônico e centralizou
suas críticas nos países que queimam parte de suas florestas.
O presidente americano desmarcou encontro que tinha com FHC, preferindo
viajar para a Califórnia para um encontro com prefeitos do interior
daquele estado.
Certas organizações
não-governamentais servem de instrumento para a cobiça internacional
e sua estratégia, agora, é usar a mídia para convencer
a todos, desde as crianças, que não temos capacidade para
conservar a Amazônia, "que pertence à Humanidade". Assim,
daqui a alguns anos, quando um organismo supranacional qualquer decretar
a internacionalização, ninguém reagirá: estarão
todos com a cabeça feita e acharão perfeitamente natural
a ocupação, para a qual, aliás, já treinam
batalhões especiais na Flórida e no Panamá, destinados
a "guardar a floresta amazônica".
A fase operativa
da conquista já começou, na palavra deles mesmos. Nossas
Forças Armadas estão conscientes do perigo. Faz alguns anos
que deslocam cada vez mais unidades para a região. Reconhecem, porém,
que não resistiríamos a um ataque armado por mais de dez
dias, se ele se fizesse sobre as principais cidades amazônicas. A
solução, conforme um ministro militar, "seria nossos guerreiros
se transformarem em guerrilheiros, porque entrar, eles entram, mas sair,
ficará difícil..."
Em abril de 1817,
o capitão da Marinha dos Estados Unidos, Mathew Fawry, famoso por
seus trabalhos em oceanografia, enviou à Secretaria de Estado um
estranho mapa da América do Sul, redesenhada por ele. O mapa ia
em adendo a um memorando secreto que ele havia encaminhado em 1816, sob
o título "Desmobilization of the Colony of Brazil" (para
ver o mapa, clique aqui). O comandante Fawry não era obrigado
a conhecer detalhes de nossa política, porque naquele ano não
éramos mais colônia de Portugal. Havíamos passado a
Reino Unido a Portugal e Algarves, por ato de D. João VI, mas isso
era de menor importância para os objetivos do brilhante oficial naval
americano.
Porque no mapa,
e no memorando anterior, ele sugeria que os Estado Unidos tomassem a iniciativa
de estimular a criação do "Estado Soberano da Amazônia",
incluindo a região limitada pelas guianas atuais, pela fronteira
da Venezuela e da Colômbia, ao Norte, e, ao Sul, por uma linha reta
que começaria por São Luís do Maranhão e hoje
terminaria no ponto extremo onde Rondônia se limita com Mato Grosso.
As sugestões
de Mr. Fawry não paravam aí, em sua intenção
de desestabilizar o Brasil, porque sugeria também a criação
da república do Equador, que nada tinha a ver com esse país,
mas englobaria os atuais Estados brasileiros de Sergipe, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e parte
do Maranhão. Queria, ainda, a "Província Autônoma da
Bahia" e, lá em baixo, a "República Riograndense". O que
sobrasse seria o Brasil...
Coincidência
ou não, em 1823 eclode no Nordeste a rebelião contra D. Pedro
I, com o Brasil, já transformado em Império. Que nome deram
os revoltosos de Manoel Paes de Andrade e do frei Caneca à república
que fundaram e logo se viu batida pelas forças imperiais? Confederação
do Equador...
Mais tarde, em
plena Guerra Civil americana, Lincoln faz a Proclamação de
Emancipação, a 22 de setembro de 1862, declarando "desde
já e para sempre livres todos os escravos existentes nos Estado
rebeldes". Com a vitória da União, o presidente americano
encontra-se com uma representação dos negros libertados e
lhes sugere, conforme proposta do general James Watson Webb, ministro plenipotenciário
de Washington junto à Corte de D. Pedro II, a criação
de um Estado Livre dos negros americanos. Onde? Na Amazônia... D.
Pedro II perdeu noites de sono mas, ao final, foi salvo pelo próprio
grupo de negros que Lincoln havia convocado. A resposta deles foi: "Não
aceitamos a proposta, porque este país também é nosso!"
E ficaram por lá mesmo, até hoje.
São reminiscências
do passado, coisas de antanho, essas investidas sobre a Amazônia?
Tomara que fossem, valendo alinhar alguns comentários recentes de
líderes da atualidade: "Ao contrário do que os brasileiros
pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós"
(Al Gore, 1989, vice-presidente dos Estados Unidos).
"Os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus intentos" ( Henry Kissinger, 1994, ex-secretário de Estado americano).
"O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes" (Mikhail Gorbachev, 1992, ex-ditador da extinta União Soviética).
"O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia" (François Mitterrand, 1989, então presidente da França).
"As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum de todos no mundo. As campanhas ecologistas internacionais que visam à limitação das soberanias nacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa, que pode, definitivamente, ensejar intervenções militares diretas sobre a região" (John Major, 1992, então primeiro ministro da Inglaterra).
"A liderança dos Estados Unidos exige que apoiemos a diplomacia com a ameaça da força" (Warren Christopher, 1995, quando secretário de Defesa dos Estados Unidos).
"Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas externas, que vendam suas riquezas, seus territórios e suas fábricas"(Margareth Tatcher, 1983, então primeira-ministra da Inglaterra).
Precisa mais? Pois tem, mesmo sem precisar:
"A Amazônia deve ser intocável, pois constitui-se no banco de reservas florestais da Humanidade" (Congresso de Ecologistas Alemães, 1990).
"Só a internacionalização pode salvar a Amazônia"(grupo dos Cem, 1989, Cidade do México).
"A destruição da Amazônia seria a destruição do Mundo" (Parlamento Italiano, 1989).
"A Amazônia é um patrimônio da humanidade. A posse dessa imensa área pelos países mencionados (Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru e Equador) é meramente circunstancial" (Conselho Mundial de Igrejas Cristãs reunidas em Genebra, 1992).
"É nosso dever garantir a preservação do território da Amazônia e de seus habitantes aborígenes para o desfrute pelas grandes civilizações européias, cujas áreas naturais estejam reduzidas a um limite crítico" (Idem)
Engana-se apenas
quem for bobo ou então malandro, se não concluir já
ter começado o sistema de pressões e constrangimentos preconizado
por Henry Kissinger, ou a fase operativa referida por John Major. começou
a se encontrar em pleno desenvolvimento, apesar do silêncio cúmplice
de nossa mídia, de nossas entidades representativas, especialmente
empresariais.
Não se
marcaram datas, é claro, ao menos até agora, para operações
militares. Os "marines" ainda não estão saltando sobre a
Amazônia, porque essa não é a estratégia lá
de cima. eles têm tempo e paciência. Pretendem, primeiro, conscientizar
a opinião pública mundial de que nós, brasileiros,
somos irresponsáveis, dilapidadores da natureza, vândalos
que não merecemos deter a soberania sobre nosso próprio território.
Pode levar alguns anos a mais, porque começaram fazendo a cabeça
do cidadão comum e, em especial, das crianças. Estas, quando
adultas, de tanta propaganda antibrasileira, aceitarão sem pestanejar,
até com aplausos, uma decisão qualquer das Nações
Unidas ou de outro organismo supranacional, internacionalizando a região.
Evidências
disso? Vamos a elas.
O Homem-aranha,
numa revista em quadrinhos, organiza a sua turma e luta contra posseiros,
fazendeiros e o governo do Brasil, "para salvar a Amazônia". O Super-Homem,
também em quadrinhos, em vez de voltar para Kripton, dedicou-se
numa aventura inteira a enfrentar os madeireiros que destruíam a
região. Venceu, pelo menos na revistinha. Num ingênuo brinde
distribuído por uma cadeia internacional de hambúrgueres,
numa história em quadrinhos, dois meninos discutem se gostam mais
de olho de cebola ou de pepino em conserva. de repente, sem mais nem menos,
um fala com o outro: "você sabia que o Brasil queima um campo de
futebol por segundo na Amazônia?".
E por falar em
fogueiras: diversos restaurantes populares, de fast-food, nos Estados Unidos,
utilizam toalhas descartáveis em suas mesas. Nelas se lê com
muita freqüência o mesmo que os ingleses colocam em adesivos
nos seus carros: "Lute pelas florestas. Queime um brasileiro".
Acabou? Não.
Há meses a cadeia de televisão CNN dedica à Amazônia
um comercial-institucional, apresentado por sua correspondente no Rio de
Janeiro, Marina Mirabella. Ela mostra, primeiro, as belezas e maravilhas
da região, exaltando-as. De repente, um corte e cenas de queimadas,
devastação da flora e da fauna, garimpos, sujeira e imundície.
e a conclusão da jornalista, em "off": "São os brasileiros
que estão fazendo isso. Até quando? A Amazônia pertence
à Humanidade e o Brasil não tem competência para preservá-la".
Tem mais. A revista
"Science", editada em Washington, acaba de publicar recente estudo mostrando
que em 30 anos os recursos de água doce do planeta não serão
suficientes para aplacar a sede universal, e o maior problema é
a falta de acesso a essa água, porque dois terços dela estão
nas geleiras dos Pólos. Em seguida completam dizendo que o rio Amazonas
carrega 15% da água doce da terra, e "só é acessível
a 25 milhões de pessoas, constituindo uma opção exótica
tentar utilizar os icebergs..."
Conforme depoimento
do ex-ministro da Marinha, almirante Maximiano da Fonseca, quando na capital
americana, "são freqüentes as professoras das escolas públicas
que defendem a invasão da Amazônia como inevitável,
e que virá mais cedo ou mais tarde".
Documentos continuam
sendo produzidos pelo Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, em Genebra,
sustentando "a necessidade da infiltração de missionários
na floresta para delimitar as nações indígenas, sempre
pedindo três ou quatro vezes mais (...) sendo nosso dever esgotar
todos os recursos que devida ou indevidamente possam redundar na preservação
desse imenso território, patrimônio da Humanidade, não
patrimônio dos países que pretensamente dizem lhe pertencer".
Organizações
internacionais de reconhecidos méritos em defesa da ecologia e dos
direitos humanos muitas vezes se misturam a organizações
fajutas, calhordas, daquelas que servem a interesses escusos do empresariado,
pregando a demarcação de terras indígenas e a formação
de nações indígenas independentes, inclusive em zonas
onde o Brasil faz fronteira com a Venezuela e a Colômbia. Só
para citar o caso dos Ianomâmi, que merecem todo o nosso respeito
e proteção: são cerca de 10 mil e têm assegurada
uma área de cerca de 9,5 milhões de hectares entre os Estados
de Roraima e Amazonas.
Uma Bélgica
e uma Holanda, onde, por coincidência, conforme o coronel Gelio Fregapani,
em seu livro "Amazônia – 1996", lê-se que 96% das reservas
mundiais de nióbio localizam-se exatamente lá. E, segundo
informações da Unicamp, a energia elétrica no futuro
será gerada em centrais nucleares limpas, feitas de um grande aro
de nióbio na forma de um pneu. Essas centrais só poderão
ser construídas de nióbio e, se dominarmos a tecnologia,
dominaremos a venda das centrais...
Por ocasião
da crise do petróleo o presidente Richard Nixon declarou que "antigamente
quando os povos vigorosos necessitavam de água, iam buscá-la
onde existisse, independente de quem fosse o dono". Pois um de seus sucessores,
George Bush, além de Ter deflagrado a Guerra do Golfo, para buscar
petróleo, foi quem, em carta ao então presidente Fernando
Collor, exigiu que a área dos Ianomâmi fosse demarcada. Também
exigiu o entupimento do poço do Cachimbo, onde, no futuro, o Brasil
poderia fazer experiências nucleares...
Hoje fica supérfluo
dizer, por inócuo, ser a Serra dos Carajás, por coincidência
em território amazônico, a maior concentração
mundial de minerais, do ferro aos nobres. A Vale já foi privatizada.
O coronel Gelio
Fregapani, que serviu muitos anos na Amazônia, e hoje se encontra
na reserva, faz um alerta partindo de frase de Bismarck, para quem "recursos
naturais nas mãos de nações que não querem
ou não podem explorar, deixam de constituir bens e passam a ser
ameaças aos povos que os possuem". E acentua: "A ameaça poderia
não ser imediata na época da bipolaridade, quando os Estados
Unidos não se arriscariam a jogar o Brasil e talvez toda a América
Latina para o outro lado, mas a situação não é
mais a mesma, e a guerra do Iraque mostrou claramente que os nossos antigos
amigos do Norte decidem rápido ainda quando estão em jogo
os seus interesses. (...) Então, qualquer pretexto servirá.
Em caso de instabilidade social ou econômica no país haverá
muito maior possibilidade de pressões serem bem-sucedidas".
Dúvidas
inexistem de que todas essas ameaças ficariam enfraquecidas caso
dedicássemos a ocupar e desenvolver a Amazônia no mais breve
prazo possível. Tentativas, porém, têm fracassado ou
sido propositadamente levadas ao fracasso. A experiência da Transamazônica
malogrou, talvez pela impossibilidade de levar nordestinos a uma região
completamente diversa de sua cultura. Mas o projeto Calha Norte foi deliberadamente
torpedeado, como se tenta fazer com o SIVAM, importando menos quem ganhou
a concorrência e lucrará com sua implantação.
Existe
o risco de acontecer um novo Vietnã
Não dormimos, propriamente, enquanto isso acontece. Unidades das Forças Armadas têm sido transferidas para a Amazônia, mas é claro que, diante de uma invasão armada, dizem os Estados-Maiores, não resistiríamos dez dias na preservação das principais cidades da região. O problema (ou a solução), está no comentário reservado de um de nossos ministros militares, feito pouco tempo atrás: "Será o momento, então, de nossos guerreiros se transformarem em guerrilheiros". Aconteceu assim no Vietnã, queira Deus que não aconteça por aqui, mas o confronto bélico não constitui o perigo principal dessa questão. Muito pior é a lavagem cerebral que se faz no planeta inteiro, atingindo crianças e jovens, até os nossos. Porque um belo dia irão decretar a internacionalização da Amazônia e se repetirá a história daquele pastor evangélico alemão que momentos antes de enfrentar o pelotão nazista de fuzilamento, escreveu: "Primeiro vieram levar os judeus e eu não me incomodei, porque não era judeu. Depois levaram os comunistas e eu também não me importei. Não era comunista. Levaram os liberais e também dei de ombros. Nunca fui liberal. Em seguida os católicos, e eu era protestante. Quando vieram me buscar não havia mais ninguém para protestar..."