O presidente Fernando
Henrique sentiu-se honrado com o convite e estará viajando para
Florença, na Itália, para, no próximo dia 16, debater
com os chefes de governo dos sete países mais ricos do mundo o estabelecimento
de "parcerias" relativas à floresta amazônica. A isca que
eles oferecem é o abatimento de parte de nossa dívida externa
em troca de compromissos e, mesmo sem explicitar, de uma espécie
de concessão parcial de nossa soberania, em nome da preservação
do que chamam de pulmão do mundo. Devastaram suas florestas,
há séculos, e agora pretendem que nenhum projeto de desenvolvimento
agrícola ou industrial seja implantado nas nossas, pelo menos sem
sua concordância ou licença. Argumentam que aquele imensurável
monte de árvores produz oxigênio para a humanidade respirar,
esquecidos de que isso acontece durante o dia, porque à noite a
produção é mesmo de dióxido de carbono, altamente
tóxico.
Não é
de hoje que os ricos intentam interncionalizar a Amazônia. Repetem
que ela pertence ao mundo, tornando-se imprescindível sua preservação
integral para o que resta do equilíbrio ecológico não
sair pelo ralo. Não aceitam as queimadas. Nós também
não, exceto aquelas que, feitas ordenada e científicamente,
servem para ampliar as faixas de produção agrícola.
Até porque tudo o que o fogo consome na região, a natureza
repõe em pouco tempo. Basta olhar para o leito da defunta rodovia
transamazônica.
Na verdade, o oxigênio
é chamariz, porque o tesouro verdadeiro, aquele que de verdade
cobiçam, está na flora, no subsolo, e, em especial, nas bacias
hidrográficas. Vai faltar água potável no planeta
no próximo milênio, tendo revistas especializadas do Hemisfério
Norte, entre elas a Science, publicado que os 25 milhões
de habitantes da bacia amazônica não merecem deter um terço
da água doce disponível nos cinco continentes". Boa parte
do restante está no Pólo Norte. Para ser utilizada seria
preciso dissolver o gelo, ou seja, arriscar-se a ver inundadas quase todas
as cidades litorâneas do Atlântico e quem sabe, do Pacífico.
Por conta disso, inúmeras
organizações não-governamentais, umas ingênuas,
outras malandras, são subsidiadas pelos governos e pelas multinacionais
dos países ricos para defender a formação de nações
indígenas independentes nas fronteiras do Brasil com a Guiana, a
Venezuela, a Colômbia e o Peru. Onde existirem tribos nômades,
que passam daqui pra lá e de lá pra cá, a estratégia
será considerá-las desligadas da soberania brasileira, colocando-as
sob a proteção das Nações Unidas. Ou da Organização
dos Estados Americanos. De preferência onde existirem grandes reservas
de minerais nobres, como o nióbio utilizado na fabricação
de mísseis e foguetes, do qual a Amazônia brasileira detém
90% do total mundial.
De tabela, ainda incetivarão
"pesquisas científicas", eufemismo para abrir a floresta aos laboratórios
internacionais e tirar lucro e proveito econômico de vasta e desconhecida
riqueza vegetal, capaz de substituir com vantagem boa parte dos medicamentos
ortodoxos, dado que a medicina natural sempre será mais barata e
mais eficaz. Sem nenhum direito devido ao Brasil, é claro.
Só não
vê quem não quer. Faz anos que os principais líderes
mundiais vêm preparando o espírito da comunidade internacional
para o assalto final. De Bill Clinton a Al Gore, do falecido François
Mitterrand a Mikail Gorbatchev, sem esquecer a bruxa transformada em baronesa,
Margaret Thatcher, e até o ex-socialista Felipe Gonzalez - todos
sustentam a "soberania relativa".
Mas tem mais. A televisão
a cabo, que atinge os cinco continentes, continua inundade de documentários
e de publicidade institucional apresentando-nos como país irresponsável
e a Amazônia como região povoada por incompetentes depredadores
da natureza. Ainda esses dias a CNN mostrou queimadas em Rondônia,
como se ocorressem na Amazônia inteira, entre chocantes imagens de
crianças barrigudas e desdentadas. O filme conclui com o apelo de
um desses japoneses energúmenos a serviço dos americanos,
clamando por uma ação internacional conjunta em condições
de evitar tamanha desgraça. Até o Robocop, esse abominável
assassino de metal, foi visto retornando da "guerrilha da Amazônia".
Sem falar no Homem-Aranha ou nos milhares de adesivos colados em carros
ingleses, belgas e holandeses, indagando do transeunte desavisado se
"ele já matou o seu brasileiro esta manhã?".
Deve o presidente Fernando
Henrique preparar-se para repelir cada uma dessas investidas, por certo
incrustadas nas entrelinhas das melosas propostas que receberá do
chamado G-7.
Agora, uma coincidência:
no mesmo dia em que o presidente estiver voando para a Itália, será
inaugurado, no Rio, um seminário sobre a Amazônia, promovido
pelo Estado-Maior das Forças Armadas. O objetivo é discutir
a estratégia de desenvolvimento e os meios de preservação
de nossa soberania na região. Os maiores estudiosos do assunto estarão
presentes. Pena não haver, no governo, ninguém com coragem
para propor a inclusão, na comitiva de Fernando Henrique, de alguns
oficiais do Emfa. Quem sabe eles pudessem assessorá-lo no diálogo
sobre a "parceria" na florestas amazônicas, deixando claro ser a
questão, também, de caráter militar...