Fonte: Correio Braziliense, 11 de Novembro de 1999.
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.O novo bote dos sete ricos
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- Carlos Chagas -
  
O autor alerta para o início das pressões oficiais dos governantes do primeiro mundo sobre o
presidente Fernando Henrique no encontro deste mês do presidente com o G-7. A idéia é que o Brasil
aceite soberania relativa na região amazônica, fazendo a troca de concessões por perdão de dívida
externa. E analisa os perigos dessa proposta e as artimanhas que têm sido feitas no exterior.

    O presidente Fernando Henrique sentiu-se honrado com o convite e estará viajando para Florença, na Itália, para, no próximo dia 16, debater com os chefes de governo dos sete países mais ricos do mundo o estabelecimento de "parcerias" relativas à floresta amazônica. A isca que eles oferecem é o abatimento de parte de nossa dívida externa em troca de compromissos e, mesmo sem explicitar, de uma espécie de concessão parcial de nossa soberania, em nome da preservação do que chamam de pulmão do mundo. Devastaram suas florestas, há séculos, e agora pretendem que nenhum projeto de desenvolvimento agrícola ou industrial seja implantado nas nossas, pelo menos sem sua concordância ou licença. Argumentam que aquele imensurável monte de árvores produz oxigênio para a humanidade respirar, esquecidos de que isso acontece durante o dia, porque à noite a produção é mesmo de dióxido de carbono, altamente tóxico.
    Não é de hoje que os ricos intentam interncionalizar a Amazônia. Repetem que ela pertence ao mundo, tornando-se imprescindível sua preservação integral para o que resta do equilíbrio ecológico não sair pelo ralo. Não aceitam as queimadas. Nós também não, exceto aquelas que, feitas ordenada e científicamente, servem para ampliar as faixas de produção agrícola. Até porque tudo o que o fogo consome na região, a natureza repõe em pouco tempo. Basta olhar para o leito da defunta rodovia transamazônica.
    Na verdade, o oxigênio é chamariz, porque o tesouro verdadeiro, aquele que de verdade cobiçam, está na flora, no subsolo, e, em especial, nas bacias hidrográficas. Vai faltar água potável no planeta no próximo milênio, tendo revistas especializadas do Hemisfério Norte, entre elas a Science, publicado que os 25 milhões de habitantes da bacia amazônica não merecem deter um terço da água doce disponível nos cinco continentes". Boa parte do restante está no Pólo Norte. Para ser utilizada seria preciso dissolver o gelo, ou seja, arriscar-se a ver inundadas quase todas as cidades litorâneas do Atlântico e quem sabe, do Pacífico.
    Por conta disso, inúmeras organizações não-governamentais, umas ingênuas, outras malandras, são subsidiadas pelos governos e pelas multinacionais dos países ricos para defender a formação de nações indígenas independentes nas fronteiras do Brasil com a Guiana, a Venezuela, a Colômbia e o Peru. Onde existirem tribos nômades, que passam daqui pra lá e de lá pra cá, a estratégia será considerá-las desligadas da soberania brasileira, colocando-as sob a proteção das Nações Unidas. Ou da Organização dos Estados Americanos. De preferência onde existirem grandes reservas de minerais nobres, como o nióbio utilizado na fabricação de mísseis e foguetes, do qual a Amazônia brasileira detém 90% do total mundial.
    De tabela, ainda incetivarão "pesquisas científicas", eufemismo para abrir a floresta aos laboratórios internacionais e tirar lucro e proveito econômico de vasta e desconhecida riqueza vegetal, capaz de substituir com vantagem boa parte dos medicamentos ortodoxos, dado que a medicina natural sempre será mais barata e mais eficaz. Sem nenhum direito devido ao Brasil, é claro.
    Só não vê quem não quer. Faz anos que os principais líderes mundiais vêm preparando o espírito da comunidade internacional para o assalto final. De Bill Clinton a Al Gore, do falecido François Mitterrand a Mikail Gorbatchev, sem esquecer a bruxa transformada em baronesa, Margaret Thatcher, e até o ex-socialista Felipe Gonzalez - todos sustentam a "soberania relativa".
    Mas tem mais. A televisão a cabo, que atinge os cinco continentes, continua inundade de documentários e de publicidade institucional apresentando-nos como país irresponsável e a Amazônia como região povoada por incompetentes depredadores da natureza. Ainda esses dias a CNN mostrou queimadas em Rondônia, como se ocorressem na Amazônia inteira, entre chocantes imagens de crianças barrigudas e desdentadas. O filme conclui com o apelo de um desses japoneses energúmenos a serviço dos americanos, clamando por uma ação internacional conjunta em condições de evitar tamanha desgraça. Até o Robocop, esse abominável assassino de metal, foi visto retornando da "guerrilha da Amazônia". Sem falar no Homem-Aranha ou nos milhares de adesivos colados em carros ingleses, belgas e holandeses, indagando do transeunte desavisado se "ele já matou o seu brasileiro esta manhã?".
    Deve o presidente Fernando Henrique preparar-se para repelir cada uma dessas investidas, por certo incrustadas nas entrelinhas das melosas propostas que receberá do chamado G-7.
    Agora, uma coincidência: no mesmo dia em que o presidente estiver voando para a Itália, será inaugurado, no Rio, um seminário sobre a Amazônia, promovido pelo Estado-Maior das Forças Armadas. O objetivo é discutir a estratégia de desenvolvimento e os meios de preservação de nossa soberania na região. Os maiores estudiosos do assunto estarão presentes. Pena não haver, no governo, ninguém com coragem para propor a inclusão, na comitiva de Fernando Henrique, de alguns oficiais do Emfa. Quem sabe eles pudessem assessorá-lo no diálogo sobre a "parceria" na florestas amazônicas, deixando claro ser a questão, também, de caráter militar...

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