Entrevista com o Dr. Barbosa Lima Sobrinho
"O pai do Fernando
Henrique, General Leônidas Cardoso, desempenhou seu mandato na Câmara
inspirado em ideais nacionalistas. O filho, atual presidente da República,
não honrou o nome do pai nem a tradição da família."
.
"...mas este meu sobrinho
não é de confiança."
- General Felicíssimo
Cardoso, tio de FHC -
- BUNDAS - Em 68 o senhor teve um infarto por causa do marechal Castelo Branco, que estava entregando nossas riquezas ao estrangeiro. Como é que o senhor conseguiu sobreviver a Fernando Henrique, que está entregando tudo de mão beijada?
- BARBOSA LIMA SOBRINHO - Sinceramente, não sei como sobrevivi.
- O senhor votou nele?
- Não, votei no Lula. O pai de Fernando Henrique, general Leônidas Cardoso, e o tio, general Felicíssimo Cardoso, eram nacionalistas. Seu pai, eleito deputado federal com o apoio dos comunistas - que estavam na ilegalidade - desempenhou seu mandato na Câmara inspirado em ideais nacionalistas. O filho, atual presidente da República, não honrou o nome do pai nem a tradição da família. Empregou o genro numa agência empenhada numa política declaradamente anti-Petrobrás. Gostaria de contar uma história: em 1968 houve uma reunião da Campanha Nacional de Defesa da Amazônia na casa do general Felicíssimo Cardoso, presidente da comissão, tio do atual presidente. Participavam Henrique Miranda, hoje diretor da ABI, o general Carlos Hesse de Melo, Os professores Alvércio Gomes e Orlando Valverde e a geógrafa Irene Garrido. Todos foram testemunhas. Discutia-se a redação de um documento de defesa da Amazônia e Henrique Miranda sugeriu que se mandasse o texto para Fernando Henrique, em São Paulo, para que ele o divulgasse e colhesse mais assinaturas. Aí o general Felicíssimo disse: "Pode mandar, Miranda, mas este meu sobrinho não é de confiança". Concordo com a opinião dele.
- E BUNDAS, como um todo, também. Pena que o Itamar não estivesse presente nessa reunião.
- Itamar cometeu um grande erro ao convidar Fernando Henrique para ministro e mais ainda quando o indicou para a presidência da República. Iludiu-se pensando que seria eleito na sucessão dele. Fernando Henrique só não aceitou o convite de Collor para ser ministro do Exterior porque foi dissuadido por Mário Covas. Quem acabou ficando no cargo foi Celso Lafer, atual Ministro do Desenvolvimento.
- É mesmo. A gente nem se lembra de que ele existe, porque não há desenvolvimento. O senhor acha que eles, Roberto Campos e Cia., ganharam? Nós, o povo, vamos perder a Petrobrás? O petróleo vai ser deles depois de todas as porradas que levamos afirmando que é nosso?
- Sempre fui contra as teses de Roberto Campos. A Petrobrás é um demonstração do que o Brasil pode fazer confiando em si mesmo. Quanto a Fernando Henrique, parece que seu objetivo é destruí-la. Empregou o genro numa agência empenhada em política declaradamente anti-Petrobrás. Estão fazendo tudo que podem para acabar com ela.
- E o que é que se pode fazer?
- O jeito seria a opinião pública se manifestar através de um plebiscito. Mas a gente olha o Congresso e o quadro é desanimador. Como pode reagir contra o Governo que permitiu a reeleição do presidente da República, modificando a Constituição, coisa que nem Getúlio Vargas ousou fazer?
- E agora, pela segunda vez, Roberto Campos teve a cara-de-pau de se candidatar à Academia e logo na vaga de quem? De Dias Gomes, o anti-Roberto Campos. Foi o primeiro a se candidatar à vaga, antes mesmo do enterro. Vamos torcer para que o senhor não tenha que aturá-lo no chá das quintas. O Dias Gomes, lá do alto, deve estar torcendo também.
- Eles chamaram de xenofobia a defesa que fazemos do Brasil. É xenofobia querer o progresso do país? O Brasil é o único país do mundo em que ser nacionalista é considerado manifestação de debilidade mental.
- É no mínimo irônico que enquanto o Fernando Henrique tem pressa em entregar nosso patrimônio, o ACM pisa no freio.
- A política internacional está se desenvolvendo em favor dos EUA. Globalização e outras palavras que inventaram tem o intuito de nos fazer dependentes dos EUA. Chegaram a um nível de poder jamais alcançado por outra nação. É a defesa dos interesses deles através dessa globalização, que é um regime em que só os mais fortes predominam.
- Como o senhor vê a perspectiva, depois de tantos anos de luta, de sermos ajudados por Antônio Carlos Magalhães?
- Pode melhorar a imagem que se tinha dele.
- Para quem chegou aos 102 anos, a pergunta é inevitável: qual é a receita?
- Praticar esportes. Joguei futebol, fiz barra, remei. Fundamos até um time, o Corinthians de Praticar Olinda. Jogávamos na praia; a gente só podia jogar na maré vazante. No remo, como só tinha 56 quilos, era proeiro. Dava longas caminhadas. Uma vez eu e Múcio Leão fomos a pé de Olinda a Goiana. Levamos 10 horas de marcha batida para fazer 60 quilômetros. Esse foi o meu recorde. Mas fazia sempre caminhadas de uma légua. Até Os sessenta anos jogava pelada com meus filhos e amigos no quintal de casa, até que levei um tombo numa bola dividida e resolvi pendurar as chuteiras. Mas todos os dias ainda dou minhas pedaladas na bicicleta ergométrica. O principal é muito trabalho. O tal "ócio com dignidade" é prejudicial à saúde.
- E dieta?
- Nunca fiz. Gosto de um cuscuz, uma feijoada. De vez em quando tomo uma caipirinha. Mas moderadamente.
- Quem foi a Tiazinha do seu tempo?
- Quem foi o quê?
- Essa moça que fica balançando a bunda na tevê.
- Na televisão só vejo o noticiário.
- Depois do Governo Fernando Henrique, quais foram os mais entreguistas?
- É mais fácil dizer os que não foram entreguistas: O de Arthur Bernardes e o de Getúlio Vargas.
- E o Itamar?
- Depois que levou a rasteira de Fernando Henrique, ficou nacionalista.